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Queimaduras na cozinha: primeiros socorros e cuidados

Fogao

Costumo dizer que o fogão não é um bicho de quatro bocas, mas ele pode virar vilão de vez em quando. Um dos acidentes domésticos mais comuns é a queimadura na cozinha e, conforme prometido, preparei este post — com a colaboração de um dermatologista, meu amigo Dr. André Borges. Aprenda a cuidar de forma adequada e evitar cicatrizes.

Como diz o ditado, é melhor prevenir do que remediar e no caso das queimaduras na cozinha não é diferente. Por isso, nunca é demais reforçar alguns cuidados importantes:
. não deixe líquidos inflamáveis (como o álcool e bebidas alcoólicas) próximos do fogão;
. evite que as panelas fiquem com os cabos virados para fora do fogão para evitar que se esbarre neles e o conteúdo quente derrame (na gente);
. tenha sempre à mão uma luva apropriada para retirar assadeiras quentes do forno e escorrer massas, por exemplo;
. mantenha o cabelo, panos de prato, toalhas, luvas térmicas, mangas de roupa e quaisquer outros materiais de tecido ou plástico afastados das chamas dos fogões;
. explique às crianças os perigos de se mexer no fogão, brincar com fogo e encostar em panelas e objetos quentes.

Se mesmo com esses cuidados um acidente acontecer, a primeira coisa a fazer é parar o processo de queimadura. É algo inconsciente soltar a assadeira quente ou tirar a mão de baixo da água quente, mas em alguns casos (quando envolve óleos, cremes ou pastas muito quentes, por exemplo) o desespero acaba falando mais alto. Respire fundo, mantenha a calma, retire com cuidado anéis, pulseiras e relógios e lave o local abundantemente apenas com água fria (e não gelada demais) para remover delicadamente os resíduos quentes. Isso ajuda a diminuir a temperatura do local e evita que camadas mais profundas da pele sejam atingidas. Nunca use sabão ou detergente, pois eles removem as barreiras naturais de defesa da pele, favorecendo inflamações, o que pode piorar a cicatrização.

A região queimada fica bastante sensível e por isso não é recomendado aplicar nada sobre a lesão. É importante destacar alguns pontos:
1. Não passe a queimadura no cabelo pois isso provoca atrito, o que agrava ainda mais a condição da pele que já está com a sua proteção natural prejudicada.
2. O mesmo acontece com substâncias abrasivas. Por exemplo, pó de café, açúcar, sal e creme dental não ajudam em nada e ainda atrapalham a recuperação da pele.
3. Não coloque gelo pois o frio intenso pode lesar ainda mais a região — apesar de momentaneamente diminuir a dor.
4. Margarina, óleos ou clara de ovo não são citados em nenhuma fonte oficial como tratamentos pós queimadura. Além disso, podem causar infecções sérias caso estejam contaminados.

A área machucada pode receber no máximo uma pomada apropriada para queimaduras. E, na dúvida, sempre consulte um médico para não correr o risco de complicações.

Dependendo da extensão e do local queimados (rosto, pescoço, tórax e área genital, por exemplo), após lavar bem o local, corra imediatamente para um Pronto Socorro, mesmo que não haja dor, pois terminações nervosas podem ter sido atingidas. Em casos mais graves, ligue para o Corpo de Bombeiros (telefone: 193) e entre embaixo do chuveiro frio mas não tire a roupa para não correr o risco de aumentar as lesões — pode parecer que não, mas quase sempre queimaduras profundas significam risco de morte.

Geralmente não é necessário um curativo nas queimaduras pequenas. Caso fique só com vermelhidão ou apareça uma bolha com líquido transparente, mantenha o local aberto e evite atrito — a superfície da bolha, quando íntegra, já funciona como um curativo natural.

Quando é mais difícil evitar atrito ou traumas (na mão, por exemplo), basta fazer uma proteção caseira de gaze e esparadrapo micropore, sem pressionar. É importante trocar essa proteção diariamente e removê-la com cuidado para não romper a bolha sem querer — se a gaze tiver aderido à pele, umedeça-a com soro fisiológico estéril antes de puxá-la. Em nenhum momento deve-se estourar propositalmente as bolhas.

Se houver muitas bolhas, se a bolha estiver muito tensa (com a pele muito esticada), caso se rompa “sozinha” ou fique com conteúdo turvo, com pus, com vermelhidão intensa ao redor e com dor, é necessário procurar um médico para que ele avalie o procedimento mais indicado para cada caso. Não tente furar a bolha ou cortar a pele em casa, mesmo com instrumentos supostamente esterilizados de maneira caseira, pois o risco de acontecerem infecções é muito alto. Além disso, a retirada da pele de forma não apropriada pode aumentar a área da ferida, prejudicando sua cicatrização e consequentemente a recuperação da pele sem cicatrizes.

Não exponha o local queimado ao sol ou ao calor intenso (como forno quente ou água do chuveiro muito quente no banho), para não agravar a lesão e até mesmo o aspecto estético da região.

O tempo de recuperação da pele varia de acordo com o grau da queimadura. Pode ser de menos de 7 dias, no caso de uma lesão superficial, ou demorar muito mais no caso dos ferimentos mais profundos. Após a regeneração da área, lembre-se de sempre aplicar protetor solar para proteger a nova pele de manchas.

Cicatrizes com coloração mais escura que a pele normal podem ser clareadas com cremes especialmente preparados para cada paciente. Além disso, há, dependendo do caso, a possibilidade de se fazer um tratamento com laser, como o de CO2, quando indicado pelo médico, com bons resultados para melhorar o aspecto geral das marcas.

Em alguns casos mais graves, a pele pode não se recuperar totalmente e, quando as cicatrizes são muito profundas e/ou extensas e chegam a limitar os movimentos, é necessário cirurgia. Entretanto, quanto mais rápidos e adequados forem os primeiros socorros e os cuidados durante a cicatrização, maiores são as chances da pele se regenerar mais uniformemente.

* Post elaborado com a imprescindível colaboração do Dr. André Borges, médico especialista em Dermatologia.

É aquariana, curiosa, jornalista e tem uma infinidade de interesses — entre eles, a culinária. Não é chef (nem pretende ser) mas a necessidade de morar sozinha a fez experimentar a alquimia das panelas e descobrir que o fogão não é um bicho de quatro bocas.

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